19 de maio de 2021

ORGULHO DE SER IDIOTA

Por Fernando Mota

Bolsonaro está cada vez mais emparedado pelas forças capitalistas que o presumem incapaz de lhes garantir mais lucros e ou até mesmo já computam perdas em alguns setores, causadas por sua administração incompetente.

Os espoliadores do país não acreditam que se mantiverem o modelo neofascista atual conseguirão atingir um ambiente estável e suficientemente promissor que, no mínimo, continue atendendo suas demandas.

 Inclusive, começam a concluir o que a história já ensinou: Toda vez que o capital fortalece um governo fascista, como tem sido a posição neoliberal até o momento, significa flertar com a certeza de baixas em sua própria trincheira e, se antes esse erro aconteceu, não é admissível para os capitalistas da atualidade sofrerem prejuízos por questões ideológicas menos importantes para seus negócios, principalmente, quando recursos de boa monta foram aplicados para se ter um povo em rédea curta, como ocorre no Brasil. 

Por isso, embora muito já tenham dilapidado do patrimônio nacional e tanto mais tenham sugado da classe trabalhadora, os usurpadores do alheio não se contentam com a incerteza do futuro e tramam a melhor maneira de jogar o bagaço do laranja de plantão fora o mantendo em banho maria, enquanto alistam outro laranjão menos intempestivo para ocupar o lugar e levar seus interesses adiante, com menos fanfarronices.

Na situação em que se encontra Bolsonaro, até mesmo um completo ignorante como ele tem a capacidade de reconhece-la como grave e não se permitir ser conduzido ao matadouro complacentemente, por isso; resiste.

Acontece que essa resistência se resume ao limite de sua habilidade bufã. Uma energia para produzir bravatas que até agora serviram para criar factoides e, como bom boi de piranha, desviar a atenção da nação permitindo a passagem tranquila da boiada que promove o achaque das riquezas brasileiras.

Na coleção das indigestas declarações bravateiras de Bolsonaro se encontra aquelas que exprimem o negacionismo quanto a gravidade da Covid com sua retórica de enfretamento às intervenções de combate ao coronavírus. E dentre tantas infâmias ainda outro dia ele chamou de Idiotas aqueles tem seguido as orientações cientificas para cuidar de si e da sociedade usando máscaras e mantendo o distanciamento social.

Não é surpresa que o presidente deplorável assim tenha denominado aqueles que em verdade tem colaborado para minimizar a baixas produzidas por seu desgoverno. E por certo, também não é surpreendente que a alcunha tenha sido usada com o sentido vulgar de burros ou imbecis e não com o significado original bem menos degradante ao indivíduo. Afinal, trata-se de palavra proferida pela boca de um pouco letrado sem escrúpulos que mal conhece a língua pátria.

O tal Idiota vem do latim, sendo derivado de ἴδιος (ídhios), “privado”. É um termo originado do grego antigo ἰδιώτης (idhiótis), que significa um sujeito privado, individual. E embora utilizado depreciativamente na antiga Atenas para se referir a quem se apartava da vida pública, agindo em sentido contrário aos cidadãos, que se dedicavam a discutir e defender os interesses da comunidade superpondo a vida coletiva a individual e tendo o espaço público como sua própria casa, o fato é que a pandemia cobra de todos, pelo menos no que se refere ao corpo, uma atitude eminentemente idiota. Ser um idiota nas condições adversas da vida atual é, portanto, a melhor maneira de defender o interesse público, o coletivo, tal qual os bons cidadãos os defendiam na antiga Grécia.

É um sacrifício que muitos companheiros da esquerda, sempre solidários e prontos a se unir juntando forças para combater as causas da desigualdade estão fazendo por mais de um ano, esperando pelo momento de se aglomerar novamente numa grande marcha contra o genocídio. Eu tenho muito orgulho de ser um desses idiotas. E nós somos muitos, estamos vivos, sobrevivendo, esperando, mantendo contatos virtuais, fortalecendo o corpo e o espirito para a grande batalha que certamente virá. E antes que os donos do capital encontrem o substituto para seu laranja fanfarrão mostraremos de quantos idiotas é feita a nação que imaginam ter destruído. A luta continua! 

Douglas N. Puodzius, Caminho Luminoso