Mobilidade humana: entenda melhor esse conceito
“Acima de tudo, nunca perca a vontade de caminhar”, a frase do filósofo dinamarquês Soren Aaabye Kierkgaard, foi a eleita por Jan Gehl para estampar a primeira página de seu livro “Cidades para Pessoas”
Deste trabalho se desdobraram mais questionamentos sobre as cidades, a mobilidade e seus arranjos. Afinal, as cidades existem para servir às pessoas.
No sentido de atender os cidadãos, a mobilidade não poderia ser outra que não humana. Então, como entender a mobilidade humana? Continue a leitura e saiba mais!
O que é mobilidade humana?
O que é mobilidade humana?
Mobilidade humana é a compreensão de que as pessoas estão no centro de todo e qualquer movimento que envolva o ir e vir e parte da percepção de que as cidades são formadas por pessoas e, por isso, devem ser feitas para as pessoas. Isso independe do ambiente no qual estão inseridas ou da forma como se deslocam.
A partir desse conceito, tudo o que interfere na locomoção humana (modais, vias, sinalizações, leis, acessibilidade etc.) deve ser pensado com o propósito de oferecer, progressivamente, uma mobilidade mais inteligente e segura, que preze pelo bem-estar e a qualidade de vida.
O conceito de mobilidade humana surgiu do debate sobre a necessidade da mudança de foco no universo da mobilidade. Com a criação do Instituto Mobih, nasceu o propósito de guiar a sociedade em busca da transformação positiva da mobilidade por meio de iniciativas próprias e apoio aos agentes públicos, privados, políticos e civis.
Para tanto, é necessário colocar o ser humano no centro dessa transformação, já que é ele quem se move pelas cidades, utiliza os meios de transporte e precisa ter cada vez mais segurança e qualidade no ir e vir.
Mobilidade Urbana x Mobilidade Humana
Mais do que uma questão semântica, a mobilidade humana amplia a perspectiva pela qual a mobilidade urbana tem sido pensada. Trata-se de uma mudança de enfoque: em vez dos meios de transporte, passa-se a colocar os cidadãos no foco do debate, incluindo suas características, necessidades e eventuais deficiências em diferentes ambientes e contextos.
Enquanto a mobilidade urbanacria condições para que as pessoas possam ir e vir com mais facilidade, tomando como base os meios de transporte e as vias, a mobilidade humanacoloca o ser humano como ponto central dessa evolução, buscando, a partir de circunstâncias físicas, históricas, geográficas, políticas e culturais, soluções para que sua locomoção seja mais inteligente e segura, independentemente da forma usada para tal.
Ainda nesse contexto, diferentemente da mobilidade urbana, a mobilidade humana aborda questões que, a princípio, não estão diretamente relacionadas ao deslocamento de pessoas, mas que impactam, sim, no ir vir — como o home office. Usando esse exemplo, se cria o incentivo ao uso da tecnologia como um meio para que as pessoas trabalhem de casa e, assim, o fluxo de pessoas nas ruas diminua.
Em contrapartida, a mobilidade urbana utiliza a tecnologia como fim, ao propor semáforos inteligentes para que esse fluxo já existente seja mais eficiente. Mais uma vez, a diferença está em trazer as pessoas para o foco do debate.
Mobilidade humana e cidades criativas
Os conceitos de mobilidade humana e cidades criativas podem ter muita sintonia. Ambos prezam pela boa relação das pessoas com os espaços que ocupam, tendo a qualidade de vida como um dos valores principais e o acesso à informação e à cultura como forma imprescindível de desenvolvimento individual e coletivo.
A mobilidade humana passa pela ideia de adaptar a infraestrutura e os espaços das cidades às novas soluções tecnológicas, estimulando a ocupação desses lugares por mentes interessadas em conviver, cocriar e aprender. É a peça-chave para a democratização do espaço público e para o aprimoramento da relação que as pessoas têm com o espaço urbano.
Pensar e repensar a mobilidade humana
Pensar e transformar a mobilidade humana não é uma tarefa fácil. Embora ofereça diversos benefícios, alterá-la pode provocar impactos profundos e nem sempre positivos, a curto prazo, para o conjunto das relações sociais e econômicas que interagem na cidade.
No entanto, são inúmeras as iniciativas que podem transformar a mobilidade de uma cidade sem que haja alterações drásticas em seu urbanismo já estruturado, tais como:
· educação e fiscalização como instrumentos de conscientização e diminuição de acidentes;
· adoção de home office e/ou horários flexíveis nas empresas;
· alteração de horários comerciais em bairros superlotados;
· ampliação do horário de funcionamento do transporte público;
· introdução de disciplinas e conteúdos relacionados à mobilidade e à educação de trânsito na grade curricular das escolas, para que crianças e jovens tenham acesso ao tema desde cedo.
Principais desafios da mobilidade humana
A mobilidade humana propõe uma forma diferente de interpretar o cenário em que se vive, pois coloca o cidadão como protagonista de mudanças positivas da atual realidade das cidades. E mudar formas de pensar é, seguramente, um exercício árduo. Assim, é grande o desafio de conscientizar as pessoas a respeito de seu papel e de sua importância em meio a essa transformação.
É preciso aprimorar a relação que cada indivíduo tem com o espaço urbano e o entendimento de que o ser humano é parte fundamental do ambiente em que vive, e não apenas um coadjuvante desse cenário. Ele não precisa aceitar as coisas como são se pode contribuir para transformá-las.
É também um desafio do Instituto Mobih reunir e engajarmembros do poder público com o intuito de incentivar o debate acerca de soluções e projetos educacionais e de conscientização, uma vez que, em meio a tantos problemas que o país enfrenta, questões relacionadas à mobilidade deixam de ser tratadas como prioridade.
Os agentes de transformação
O papel das instituições políticas — dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário — está intimamente ligado à evolução da mobilidade humana. Faz-se indispensável o desenvolvimento de políticas públicas em consonância com a realidade e com os pleitos dos cidadãos, além da formulação de leis que sejam amplamente adotadas pela população, cujas penalidades sejam rigorosamente aplicadas.
Isso envolve um debate criterioso, que passa pela elaboração das normas e vai até o efetivo cumprimento das mesmas, ou seja, desde sua elaboração até sua execução e fiscalização. Afinal, tais medidas garantem a prevenção e a correção de comportamentos inadequados e infrações, tendo como objetivo principal a reeducação — o que, consequentemente, contribui para uma mobilidade mais segura, responsável e democrática.
Já no que diz respeito à sociedade, é fundamental que ela esteja engajada com a mobilidade não só quanto ao protagonismo que exerce sobre mudanças positivas nesse cenário, como em relação à cobrança às autoridades. É também um papel que a sociedade precisa reconhecer como seu, acompanhando e fiscalizando a atuação dos governos e do Estado em prol do direito e da qualidade do ir e vir dos indivíduos.
Com a união dos principais agentes de transformação, é possível impulsionar a diversidade de diálogos acerca dos desafios da mobilidade humana e estimular as mudanças nesse cenário.
Nesse âmbito, como movimento democrático e agregador, o Instituto Mobih não apenas difunde ideias de diferentes fontes, sob forma de estudos, pesquisas, campanhas, conteúdos e ações, como também adota, realiza, contribui e incentiva eventos, projetos, programas, fóruns, oficinas de capacitação e demais iniciativas relacionadas ao aprimoramento dos sistemas de transporte, às maneiras de entender o trânsito de pessoas e à segurança no trânsito.
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